As primeiras ordens profissionais.
Paralelamente ao desenvolvimento desigual dessas associações, começaram também a desenvolver-se as primeiras ordens profissionais que, com o tempo, passariam a desempenhar um papel decisivo na articulação das entidades de previdência social. Nesta progressiva, embora excessivamente lenta, materialização dos instrumentos de ajuda mútua, os médicos distinguiram-se pelo seu grande exemplo de companheirismo e apoio espiritual, profissional e económico através das confrarias, que tomaram os nomes dos santos médicos Lucas, Cosme e Damião. Posteriormente, apareceram os montepios, que marcaram a conclusão da transformação laica das confrarias. Contudo, as associações profissionais, incluindo as ordens, não perderam toda a sua natureza religiosa das suas origens até ao final do século XIX, quando começaram a tornar-se instituições civis.
Entretanto, os médicos, que tradicionalmente tinham sido considerados como profissionais opulentos, para não dizer ricos, estavam a dar claras provas da sua verdadeira condição social, que não era outra senão a de uma classe profissional encurralada cada vez mais na dificuldade, na escassez e na penúria económica. Uma das causas que mais contribuíram para a deterioração do seu poder de compra foi a introdução dos contratos de tarefa ou de avença, que lhe retiraram os riscos, mas também os benefícios, que lhe oferecia o livre exercício. Porque, se bem que os médicos passaram a ter uma remuneração segura, é igualmente evidente que a sua suficiência era duvidosa e que, por vezes, tornava a profissão uma verdadeira servidão.